Você sabia que o futebol feminino foi proibido no Brasil por mais de 40 anos?
É isso mesmo. Em 1941, durante o Estado Novo, um decreto vetou a prática de esportes considerados “incompatíveis com a natureza feminina” — e o futebol estava no topo dessa lista. Só em 1983 a modalidade foi regulamentada por aqui. Mas, como sempre, as mulheres nunca deixaram de jogar, driblar e resistir. E é essa história que o documentário “As Primeiras” chega para contar com força e emoção.
Uma história que merecia ser contada (e ouvida com atenção)
Dirigido por Adriana Yañez e produzido pela Olé Produções, o filme estreou nos cinemas do Rio e de São Paulo, e estará disponível no streaming a partir de 17 de abril. Ele traz depoimentos poderosos de sete mulheres que compuseram a primeira Seleção Brasileira de Futebol Feminino: Elane dos Santos, Leda Maria Abreu, Maria Lucia da Silva, Marilza Martins, Marisa Pires, Roseli de Belo e Rosilane Camargo.
Essas atletas pioneiras, hoje na faixa dos 60 anos, vieram de bairros suburbanos do Rio de Janeiro e foram as responsáveis por quebrar a primeira grande barreira: existir enquanto jogadoras de futebol.
Da proibição ao campo de jogo
A pesquisadora Aira Bonfim, responsável pela pesquisa histórica do documentário, destaca uma coincidência que parece destino: as jogadoras que formaram essa seleção histórica cresceram nos mesmos bairros onde, décadas antes, surgiram os primeiros times femininos (ainda antes da proibição oficial). Como se a bola tivesse encontrado o caminho de volta.
“É quase como uma retomada. Elas reaparecem nesses mesmos terrenos”, comenta Aira.
Vozes que ecoam
O documentário dá espaço para que essas mulheres contem suas trajetórias com sinceridade, dor, afeto e orgulho. Leda Maria Abreu, por exemplo, entrou para a seleção aos 17 anos como cabeça de área e atuou profissionalmente por 26 anos. Hoje, aos 59, vive em Itaboraí (RJ) e relembra:
“Tivemos o apagamento de uma geração inteira. Mostramos o quanto lutamos, o quanto sofremos para estar dentro dos campos, contra tudo e contra todos.”
Futebol sem retorno financeiro. Mas com muito amor
Naquela época, jogar bola não era sinônimo de reconhecimento ou estabilidade. As atletas ganhavam pouco (ou quase nada), e a maioria precisou buscar novos caminhos quando a carreira foi interrompida. Mesmo assim, o amor pelo jogo e a amizade entre elas resistiram ao tempo.
A diretora Adriana Yañez destaca o que moveu o projeto:
“É um resgate da memória afetiva do futebol das brasileiras. Quase quatro décadas depois, elas continuam vivendo nas mesmas comunidades, com muita força, esperança e orgulho. A amizade entre elas é o coração do filme.”
Por que assistir “As Primeiras”?
Porque você merece conhecer quem abriu as portas para a Marta, a Formiga, a Cristiane e tantas outras. Porque a luta das mulheres no esporte precisa ser lembrada, contada e valorizada. E porque, às vezes, o que mais precisamos é ver a beleza da resistência — mesmo nos gramados mais hostis.
As Primeiras está em cartaz nos cinemas do Rio e de São Paulo e chega às plataformas digitais no dia 17 de abril. Prepare o coração e os aplausos: essas mulheres merecem uma torcida de milhões.
Ella Play é um portal que joga junto com elas.